3.1.08

Íntegro às avessas.

(artigo publicado no jornal A Notícia, do dia 30.12.2007)

Princípios são inegociáveis. Esse era o modo de Mário Covas de fazer política: aberto, democrático, em contato com as diversas correntes políticas sem abrir mão de suas convicções mais profundas. Sabia ele que a convivência exige o respeito; que a democracia valoriza a diferença e pressupõe, por isso, o diálogo e o acordo entre aqueles que têm pensamentos diversos e, em muitos casos, conflitantes. Porém, em nenhum caso os princípios podem ser objeto de barganha.

Ao contrário do que estamos habituados a ouvir, a vida pública não comporta uma ética autônoma. O bom cidadão – o que é um bom político, antes de tudo – esforça-se para manter a “unidade de vida”, ou seja, para ser o mesmo e cultivar virtudes em todos os campos de sua atuação. A isso chamamos integridade. Pessoas íntegras preservam sempre bons princípios; não jogam para a platéia, adaptando suas crenças às circunstâncias. Fazem o que precisa ser feito, podendo, inclusive, mudar de opinião por conta do dever de estar em dia com sua consciência. Sendo fruto da reflexão racional apoiada nos valores recebidos desde a infância, suas posições refletem a solidez do seu caráter - o que as torna confiáveis e respeitadas até por seus adversários. A história nos deu diversos exemplos de pessoas assim, Mário Covas foi um deles.

Por outro lado, existe a integridade às avessas: o sujeito firme nos maus princípios. Nosso presidente, por exemplo, quando se disse uma “metamorfose ambulante”, além de contribuir na descrença da população com a política, tentou disfarçar os valores negativos que o movem. Tratando sua mudança de posição em relação à CPMF como mostra de maturidade e não-radicalismo, comprovou apenas que não mudou. Sempre que o País precisou de políticos para tomar decisões fundamentais – ainda que impopulares –, Lula e seu partido ou se abstiveram ou disseram “não”. Foi assim, entre tantos exemplos possíveis, na eleição de Tancredo Neves; na Constituição de 1988; na implantação do Plano Real; na criação da CPMF; e, agora, no fim dessa contribuição.

Felizmente, a cada dia, mais brasileiros percebem a necessidade de eleger pessoas positivamente íntegras e deixar de lado bizarras e enganadoras metamorfoses.

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