24.10.07

História cíclica

(publicado no Diário Catarinense - 26 de novembro de 2007)

Há quatro anos o problema da venda e consumo de drogas no campus da UFSC era notícia. Por conta de premiada reportagem veiculada pela RBS o assunto entrou na ordem do dia, ganhando repercussão nacional. Dentro da Universidade o debate foi igualmente intenso: de um lado os defensores do policiamento ostensivo do campus; do outro, aqueles que – por anacronismo, ingenuidade ou má fé – ainda confundiam segurança pública com a repressão política dos tempos autoritários.

Aqueles também eram tempos de eleição para a reitoria. Como eu, os que defendiam uma Universidade de excelência acadêmica, democrática, inovadora e mais segura – inclusive com a abertura de um posto policial no seu interior – cerraram fileiras em torno da única candidatura cujas propostas poderiam cumprir tais requisitos. Os demais candidatos, buscando o voto e a simpatia dos estudantes e professores mais "progressistas", alternativos e revolucionários, apresentavam uma postura leniente, fechando questão contra o tal "policiamento no campus" – tabu para a esquerda universitária.

Vencemos mas não levamos, o presente demonstra. Muitas concessões foram feitas e o medo do politicamente incorreto manteve a UFSC entregue ao crime e a contravenção. O próprio Reitor foi seqüestrado neste período – ironicamente por aqueles que (em causa própria?) ainda recusam o policiamento.

Felizmente, não é apenas o consumo de drogas que "é cíclico", como disse o professor Lúcio Botelho [veja reportagem completa]. Este ano a Universidade elege seu novo reitor. Para o bem de toda comunidade, não apenas a acadêmica, torçamos para que a próxima gestão se comprometa a reprimir a apologia, o consumo e o tráfico de drogas no campus.

23.2.07

A reação das famílias

(publicado no Diário Catarinense - 18 de fevereiro de 2007)

Se alguém entregar um panfleto ao seus filho de 13 anos, menino ou menina, incentivando-o a relatar as suas ficadas, qual seria a sua reação? E se o mesmo sujeito completasse, explicando que "ficada" pode ser "beijar, namorar, sair e transar"? Pense nisso... Pois este absurdo está acontecendo em nosso país. A cartilha elaborada pelo governo federal para ser distribuída aos estudantes de 13 a 19 anos das escolas públicas é uma afronta ao bom senso, ao pátrio poder e ao ECA. Por isso, é preciso urgentemente barrar a tentativa do Estado de tirar dos pais o direito de dar aos filhos valores morais.

Para começar, tal programa cria uma faixa etária absurda: uma criança de 13 anos e um adulto de 19 estão sujeitos às mesmas dicas e incentivo ao sexo. Tais dicas – “beijar, namorar, sair e transar” – sendo seguidas por duas pessoas nos extremos desta faixa, configuram um crime. Mas o governo não liga para isso e ainda ignora a preocupação dos pais.

A interferência estatal afronta a autoridade dos pais para educar seus filhos. Marisângela Simões, diretora do Programa Nacional DST/AIDS respondeu à pergunta sobre a possível crítica das famílias ao material dizendo: “O foco é o jovem, não a eventual censura que possa vir de um pai”. Ou seja, para este governo a censura paterna não é mais parte da educação. A palavra de um pai para seus filhos de 13(!) anos é substituída pelo incentivo da comparação do beijo ao chocolate: ambos podem “aguçar todos os sentidos” e “liberar endorfinas”, mas o beijo queima calorias – ao contrário do doce.

Nesta hora, diante do noticiário recente, podemos nos perguntar se o Estatuto da Criança e do Adolescente serve apenas no momento de proteger o “menor” infrator. A cartilha viola os artigos do Estatuto que protegem e garantem à criança e o adolescente: a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral; a dignidade e o respeito aos valores “culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social”; e o direito a informação que respeite sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Temos que cobrar, portanto, uma atitude dos promotores da criança e do adolescente.

Enfim, o que precisamos é de cartilhas que eduquem nossas crianças para as virtudes, desde pequenas até a idade adulta. Estas sim, não precisam de faixa etária para ser ensinadas. E valem tanto para evitar a gravidez precoce e a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis quanto para evitar que “menores” matem inocentes. Em todos os casos há opção e elas dependem de valores e virtudes.

Jefferson Fonseca

26.1.07

Conversa desenfreada e frenética sobre uma cidade.


Por Beto Stodieck - (09 de abril de 1972)


A poesia, desmistificadora dos esquemas totalitários que aprisionam a realidade, dissocia os falsos elementos que compõem esta, pra depois juntá-los num facho de luz e consciência. Não sei se me fiz claro, em todo caso lembro o verso de Caetano Veloso em “Maria Bethânia”: “Because we know that all the cities were rebuitl to be destroyed” (Porque sabemos que todas as cidades são reconstruídas para serem destruídas).
Do quarto andar de um sólido edifício vejo a reconstrução da Vila de Nossa Senhora do Desterro. (Por reconstrução pode-se entender muita coisa mais do que urbanismo. Às vezes me torno radical, sabe).
Temos vergonha do passado. Não suportamos nossas origens, nosso arcabouço, nossa arquitetura física e espiritual. Negamos o Desterro, vivendo em perpétuo exílio. Não nos conhecemos e não amamos porque não há mais lugar para a fantasia e a imaginação. Existe apenas a gravata, o consumo e todos obedecem como bons filhos da ordem e do progresso.
O despojamento da necessidade de posse (não estarei divagando em excesso?), assim como a consciência, é muito sofrido e requer muita prática e habilidade, my friend. É ficar nu diante da platéia intolerante, é ter culpa no cartório. Não se trata de discutir a lei, mas de destruí-la, como aquele prisioneiro de Attica.
A Ilha ainda é refúgio, mas tem seu tempo contado. Seus [?] cobrarão cada grão de areia e de suas águas farão divertimentos rigorosos. Deus vigia a Ilha night and day. Cuidado, que Ele pode ser tomado de fúria e lançar terrível maldição sobre aqueles que não suportam a liberdade de conversar nas esquinas.
Lagoa, Armação e Joaquina são três mulheres douradas de sal e mel, vestidas de bilro. Logo afogarão suas areias sob o lixo de 1980. Mística e açoriana, esconderijo de piratas, acolhedora do outono e do vento sul, a Ilha bebe o último copo de vinho verde e esconde a nudez de seu primitivismo em túnicas de tergal.